Você certamente já viu aquelas diversas pesquisas que medem a quantidade de mensagens publicitárias a que somos submetidos por dia. São números assustadores, que chegam perto dos 7 mil estímulos diários. Aposto que se houvesse um estudo para dizer o quanto dessas propagandas contém algum clichê, teríamos uma estimativa próxima dos 98%, ou mais.
Os lugares-comuns estão presentes em nosso cotidiano tanto quanto uma comercial de TV, um anúncio impresso ou banner na internet. E para não colocar a culpa só na publicidade, também nos textos jornalísticos e reportagens. E se você não quiser ficar obcecado, nem pense naquilo que fala nas suas conversas por aí.
Em seu recém-lançado “O Pai Dos Burros: Dicionário De Lugares-Comuns E Frases Feitas” (Arquipélago Editorial, 208 páginas), o jornalista Humberto Werneck catalogou 4.640 clichês. Por cerca de quatro décadas, ele colecionou todas as frases comuns que pode encontrar, anotando em guardanapos, papéis e guardando em sua gaveta.
Segundo a pensadora alemã Hannah Arendt:
“Clichês, frases feitas, adesão a códigos de expressão e conduta convencionais e padronizados têm a função socialmente reconhecida de proteger-nos da realidade, ou seja, da exigência de atenção do pensamento feito por todos os fatos e acontecimentos em virtude de sua mera exigência. Se respondêssemos todo o tempo a essa exigência, logo estaríamos exaustos.”
Mais do que se transformar em um guia proibitório de palavras, “O Pai dos Burros” pretende recomendar uma despretensiosa desconfiança durante o ato de criar e escrever. As fórmulas prontas são o conforto medíocre de quem prefere não se arriscar com o desconhecido. Como Werneck diz, nada que saia tão facilmente pelos dedos, de forma automática, costuma ser verdadeiramente bom.
Portanto, “não fique profundamente abalado” se descobrir que vários dos seus termos preferidos, que “estão na ponta da língua”, integram o dicionário. “Sem sombra de dúvida”, o que você precisa fazer é “arregaçar as mangas” e “dedicar-se de corpo e alma” para reciclar o vocabulário com sua “imaginação fértil e“fugir do óbvio”.
Não “adianta chover no molhado”, encare a “árdua tarefa” e “aproveite o ensejo” em busca dos segredos de uma “receita de sucesso”. O livro “não é um divisor de águas”, mas certamente compila uma “vasta documentação” que exercerá “sérias consequências” no seu modo de escrever. Caso contrário, “fica o dito pelo não dito”.
Por Carlos Merigo, do Brainstorm9
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