Seleção de diversas charges da personagem Graúna e seus companheiros, o cangaceiro Zeferino e o bode Orelana, sempre usando o sarcasmo e o humor negro para apontar as contradições cotidianas da política brasileira.
Conta ainda com uma introdução do filho do cartunista, além da apresentação do amigo e parceiro de Pasquim, Ziraldo (criador do Menino Maluquinho, do Pererê etc.).
“Não somos um país sério”, diz o bode Orelana, ao fim de uma das mais escrachadas piadas do livro. Talvez seja justamente por isso que o Brasil possa contar com humoristas do calibre de Henfil. Seu traço é cheio de vida, de movimento, de graça e fúria; quiçá “expressionista”, como quer Ziraldo. Alguns diriam “exagerado”, excessivamente dramático, teatral demais.
Isso é perceptível na paranóia caricata de Ubaldo ou na crueldade irreal dos Fradins. As expressões saltam imediatamente à vista do leitor, arrancando-lhe não somente o riso como também certas emoções contidas. Nisso, Henfil lembra muito Don Martin, um dos melhores cartunistas da Mad original. A comparação chega a ser inevitável.
Contudo, o brasileiro vai mais fundo. Seus traços rudimentares penetram com violência surda a consciência da nação. Tudo de Henfil parece ter urgência demais, uma necessidade inadiável de destruir o castelo de erros que era (é?) a política brasileira.
Suas charges tinham a pressa e a vontade de um furacão bem pensado. Henfil parecia ter tanta crença na importância de uma piada gráfica bem colocada que, imerso em sua missão, não deixava entrever a pessoa leve e divertida que percebemos neste livro, principalmente na figura da Graúna.
Com seus traços básicos, seu riso fácil (deboche sempre?), a pequena Graúna se sobrepõe em sua obra, uma figura feminina leve e fina, mas de forte presença; contrapondo-se ao corpulento e ingênuo Zeferino ou ao intelectualizado e cínico Orelana, numa trindade de excepcional apelo cômico.
Nota-se facilmente que a Graúna é a personagem mais humana de Henfil. Não surpreende, portanto, que (e este álbum deixa isso bem claro) suas piadas políticas funcionem tão bem, melhor ainda que com a maioria dos outros personagens.
Este é um livro necessário, embora incompleto. A exemplo de Hiroshima, meu humor, não faria nada mal se a edição fornecesse informações sobre o contexto em que foram concebidas as piadas, embora sejam efetivamente bem menos datadas que as daquele álbum. Porém, o trabalho não compromete significativamente o entendimento da obra. Percebe-se um Henfil sempre presente, em sua urgência demolidora, em sua fúria revolucionária, o sarcasmo contra os tanques.
Sentencia Ziraldo, no ótimo texto de apresentação: “Seu desenho era uma escrita”. Completa o próprio Henfil, na quarta capa: “Morro, mas meu desenho fica”. Amém, camarada. Sempre indispensável, inadiável.
Por Diego Calazans / Universo HQ
A Volta da Graúna – Henrique de Sousa Filho (Henfil)
Tamanho: 5,08 mb
Crédito : BLOG EBOOKS GRÁTIS
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